No primeiro dia de aula de Angélica, na primeira série, a menina estava empolgadíssima por finalmente conhecer a escola da qual Marcelo tanto lhe falara. O garoto descrevia as escadas, as salas de aula, o jeito que as professoras andavam e até mesmo o jeito rabugento e engraçado da inspetora Lucinda. Sem dúvida alguma, devia ser um lugar maravilhoso pra fazer amizades e dar boas risadas.
Marcelo morava duas casas ao lado, sendo que todos os dias passava na frente da casa de Angélica, acompanhado de sua mãe ao ir para a escola, acenando quase todas as vezes.
A partir desse ano, os dois começariam a ir juntos para a escola. Angélica aos seis anos, completaria sete em abril, e Marcelo com oito anos, completos naquele mesmo mês de fevereiro, dia quatro.
Quando animadamente caminhavam em direção à escola, passaram por alguns meninos empinando pipas. A menina achava divertidíssimo olhar aquelas pipas coloridas voando no céu de forma tão desorganizada e sem nem pensar duas vezes ergueu seus olhos para deslumbrar-se com os pássaros de papel. Marcelo estava ocupado demais ouvindo um pequeno sermão que sua mãe Sandra resolvera há pouco começar, porque havia esquecido de pegar o lanche.
Sem perceber, Angélica pisou num carretel que estava sobrando e numa fração de segundo se viu rolando ladeira abaixo. Não mais distante que dois passos longos, Marcelo e Sandra correram a socorrê-la. Com os cabelos caindo sobre o rosto, a pequena Angélica estava aos prantos de tanto rir, confessou que num rápido pensamento concluiu que o carretel se sentira abandonado e resolveu se atirar na frente da menina, na esperança de cumprir seu ofício. Mas esta estava distraída demais observando as pipas presas aos demais carretéis.
- Acho que ele queria que eu lhe arrumasse uma pipinha, coitado.
Dali em diante, 'Pipinha' passara a ser um apelido muito usado entre os três, para relembrar a compaixão inconsciente de Angélica para com o carretel solitário.
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