Aquela sexta-feira chovia muito. O céu chegou a parecer asfalto pela sua cor, mas isso nunca foi pretexto para que os dois faltassem à escola. Especialmente nos últimos dois meses, Marcelo vivia contando para a amiga sobre uma menina que havia entrado na escola; seu nome era Isabel. Angélica acabara de fazer 14 anos e, já na oitava série, não podia acompanhar muito de perto o amigo durante o período de aula já que este estava no segundo ano e cada um tinha seus próprios amigos e sabiam se dar o devido espaço.
Curiosamente nervoso, Marcelo saiu desesperado atrás de Pipinha; parecia que tinha grandes notícias. Ao encontrá-la, ofegante a puxou para isolarem-se e começou falar de forma comicamente desorganizada:
- Ela estava lá, ela estava lá, e então ela saiu e deixou cair o estojo! Eu peguei e quando ia entregar, ela cochichou no me ouvido pra encontrá-la na hora do intervalo, Pipinha!
- Quem estava lá?
- Isabel! Isabel estava lá!
- Lá onde, Má?
- Na sala, na sala!
- Ué.. Mas ela já não é da sua sala? Não está lá todos os dias?
- É sim.. Mas hoje ela estava lá, do meu lado, do meu la-do.
- Ah sim, e ela falou pra você encontrá-la agora, na hora do intervalo?
- Positivo, senhora!
- E o que ela quer?
- Não sei. Mas o que eu faço?
- Parece óbvio... Vai lá! Encontra ela! E depois, me conta tu-di-nho.
Num impulso Marcelo saiu desengonçadamente depois de dar um rápido e apertado abraço em Pipinha, que ficou rindo sozinha ao ver a afobação do amigo.
- Acho que isso é estar apaixonado.
Em segredo, desde o começo daquele ano, Angélica vinha arrecadando qualidades que procurava num menino; queria que seu primeiro beijo fosse apaixonado. Estava disposta a esperar.
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